Mensagens

A mostrar mensagens de 2021

A autora francesa Andrée Chedid

Imagem
  Andrée Chedid  (20 de março de 1920 - 6 de fevereiro de 2011) foi uma poetisa e romancista francesa de origem egípcia. A autora designava-se a si própria como "escultora de palavras". A sua obra tem sido o meu alvo mais recente de presquisa.  Deixo-vos a sua definição de poesia.

Dias cinzentos numa época de luzes e brilhos

Imagem
  Foi naquele dia 12 de dezembro que o meu céu escureceu, que a tristeza pintou de preto a minha alma, que senti o mundo empurrar-me contra uma parede rochosa e que senti a dor e o vazio de uma amputação. Tinha 7 anos, quando me disseram que não ias voltar, que não teria mais o teu colo, os teus beijos, o teu abraço…Que a palavra Mãe seria guardada no fundo de uma gaveta, junto com as tuas fotografias, com o cheiro do teu batom, com o teu doce perfume, com o calor do teu abraço. Embrulhei-me no teu robe…Sentia o teu perfume, a tua presença. Não caíram lágrimas, chorar seria pouco para exteriorizar toda a minha tristeza, mágoa ou o que fosse, que não teria um nome, pois tentar nomeá-la, pronunciá-la seria ainda assim ensurdecedor e vago para descrever o que sentia.  O choro e o grito, ásperos, fizeram um nó e sufocaram no meu peito, bem dentro de mim. O grito que eu não dei, a lágrima que não caiu, a boca que não gemeu, o vazio que não preenchi…o silêncio que eu recebi e aceitei, como q

Adeus Novembro...

Imagem
 

O Tempo

Imagem
 

As palavras são sementes

Imagem
                                                                   The Wind Painting By Vladimir Volosov As palavras são sementes. Germinadas ao acaso, pairam no ar, conduzidas pelo vento. Não sabem o seu destino, apenas que chegarão a algum lugar… gastas como folhas rendilhadas e secas ou viçosas guardadoras do orvalho e sol das manhãs tranquilas, cheias de poesia. Algumas anunciam a morte da luz. Saiem em tumulto, quebradas,em vendavais de pó e lama, trazendo o som da voz amarga e amordaçada por entre as grades do silêncio. As palavras de ternura voam como pombas brancas, que se libertam num imenso céu azul e procuram os corações, para fazerem os seus ninhos. As palavras de amor ondulam nas águas dos rios, pintam os silêncios nos lábios e escrevem música nos corações. Uma vez germinadas, são difíceis de arrancar, deixam quase sempre raízes entrelaçadas nas pedras da memória. Somos feitos de rios, palavras e vento.                                                          
Imagem
  "Olhar as coisas sem as nomear. Não as saber de cor.  Vê-las todos os dias na plenitude do seu mistério,  ao mesmo tempo maravilhosas e absurdas."                                                     Miguel Torga, in 'Diário XV'

Olhares...

Imagem
  Somos feitos de espera...  Nick Flynn

Márcia com JP Simões - A PELE QUE HÁ EM MIM

Imagem
Anotem a receita:   Duas boas vozes que casam lindamente e fazem magia com as palavras,   Um bom poema,  Uma viola para dar o tom... Depois, é fechar os olhos e voar.   Quando o dia entardeceu E o teu corpo tocou Num recanto do meu Uma dança acordou E o sol apareceu De gigante ficou Num instante apagou O sereno do céu E a calma a aguardar lugar em mim O desejo a contar segundo o fim. Foi num ar que te deu E o teu canto mudou E o teu corpo no meu Uma trança arrancou E o sangue arrefeceu E o meu pé aterrou Minha voz sussurrou O meu sonho morreu Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada. Dá-me o quarto vazio da minha casa Vou deixar-te no fio da tua fala. Sobre a pele que há em mim Tu não sabes nada. Quando o amor se acabou E o meu corpo esqueceu O caminho onde andou Nos recantos do teu E o luar se apagou E a noite emudeceu O frio fundo do céu Foi descendo e ficou. Mas a mágoa não mora mais em mim Já passou, desgastei Para lá do fim É preciso partir É o p

Márcia dás-me Música e eu gosto.

Imagem
Sou uma fã assumida da Márcia. Conheci-a numa fase menos boa da minha vida e, como muitos, encontrei a tradução perfeita de alguns pensamentos e emoções que tão bem me definiam (e ainda o fazem). A voz, a composição das letras, os videoclips fora da caixa foram-me conquistando. Para mim, é uma das melhores (intérprete e compositora) do nosso país. É a prova de que não é necessário gritar, atirar a voz lá para cima, para se fazer boa música, com melodias originais, excelentes letras e a dose certa de criatividade e inovação.  És genuí na, autêntica.   Márcia organizas o meu Mundo e fizeste-me "prometer a mim mesma mais de céu azul".

A Dança

Imagem
A dança começou. A tua mão primeiro deslizou na minha, para depois se colar, palma com palma. Levaste-me como ave flutuando num céu desenhado de tons doces e primaveris. O meu cabelo  ruivo, esvoaçava feito a crina de um corajoso cavalo em galope rápido e certeiro. Fecha os olhos.  Palavras constantes na minha cabeça, numa só voz, a cada vez que rodopiávamos e eu via os tons da decoração da sala esbaterem-se numa só aguarela, manchada e ilusória. A música alternava entre as batidas do meu coração e o som dos nossos passos. E eu tentava escutar o teu coração...talvez para acertar o compasso do meu, naquele movimento ondular de corpos, mãos suadas e uma brisa levemente perfumada. A música já tinha terminado há breves instantes, mas nós continuávamos aquela dança, completamente inebriados, presos no olhar um do outro, de mãos mais unidas que nunca, num perpétuo andamento.  Talvez ambos desejássemos que aquele momento ultrapassasse os limites do grande Senhor do Tempo, aquele que fora o re

Sadness sounds so beautiful...

Imagem
I am wasted, losing time On a foolish, fragile spine I want all that is not mine I want him but we're not right In the darkness, I will meet my creators And they will all agree, that I'm a suffocator I should go now quietly For my bones have found a place to lie down and sleep Where all my layers can become reeds All my limbs can become trees All my children can become me What a mess I leave To follow To follow To follow To follow In the darkness, I will meet my creators And they will all agree that I'm a suffocator, suffocator, suffocator Oh love I'm sorry if I smothered you I'm sorry if I smothered you I sometimes wish I'd stayed inside My mother Never to come out Fonte:  LyricFind Compositores: Elena Veronica Tonra / Igor Alexandre Haefeli Letras de Smother © Universal Music Publishing Group

A espera

Imagem
 Não sei esperar sem ser em flor. Não sei morrer sem ser amor. Sei pintar de cor em cor. Subir, descer sem sentir dor. Que a vida se desfaça em mil pétalas no princípio do mundo na descida íngreme de mim para que a luz de novo me inquiete o coração escuro esvaziado das coisas incertas.
Imagem
  (…) Helena, a doce Helena. Que olhar triste e pesado se apoderou dela. No mais fundo da sua alma, sabia que aquele momento iria marcá-la para sempre. Mais uma cicatriz, mais um remendo naquela manta de retalhos chamada vida. Trémula, sentiu todo o seu corpo cambalear, numa completa volta vertiginosa. A queda parecia eminente, mas ainda conseguira debruçar-se numa antiga cómoda, situada  entre a escrivaninha e a porta do quarto. Sentia urgência em sair dali, como se o ar se rarificasse naquele espaço, como se sentisse um peso a afundá-la, a apoderar-se do seu corpo já um pouco inerte. A dor, a tristeza, a mágoa eram assumidamente mais fortes e poderosas, que qualquer vislumbre de combatividade, de qualquer gesto defensivo ou de derradeira tentativa de sobrevivência. A sua expressão era uma mistura de dor e fraqueza. Pálida, dormente e de olhos baços e tristes, sentia que talvez o choro pudesse ajudá-la a desabafar, a exteriorizar aquela dor dilacerante, que a rasgava e a comprimia n

Peço-te que venhas e me dês um pouco de ti mesma onde eu habite...

Imagem
            Este blog nasce no dia em que a minha poetisa preferida, Sophia de Mello Breyner Andresen faria 102 anos.           A primeira mulher a receber o Prémio Camões, o maior prémio literário da língua portuguesa, entre tantos outros. Uma mulher que primou pela sua vasta obra mas igualmente por ter uma atitude interventiva,  denunciou ativamente o regime salazarista e os seus seguidores, foi ainda membro e fundadora  da Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos.              Os temas das suas poesias sempre me fascinaram desde tenra idade,a sua comunhão com o mar e a natureza sempre ressoaram em mim como algo de tão próximo, que vira muitas vezes espelhados na sua obra, sentimentos, ideias, sensações, que me habitavam de forma tão natural e profunda.    Colocá-los neste  blog, fragmentos, rascunhos, retalhos empoeirados de escrita, que agora ponho a nu, não irá ser tarefa fácil, mas ainda assim, a sinto como necessária.  Sophia, nas tuas próprias palavras, peço-te : "(