Dias cinzentos numa época de luzes e brilhos
Foi naquele dia 12 de dezembro que o meu céu escureceu, que a tristeza pintou de
preto a minha alma, que senti o mundo empurrar-me contra uma parede rochosa e
que senti a dor e o vazio de uma amputação.
Tinha 7 anos, quando me disseram que não ias voltar, que não teria mais o
teu colo, os teus beijos, o teu abraço…Que a palavra Mãe seria guardada no
fundo de uma gaveta, junto com as tuas fotografias, com o cheiro do teu batom,
com o teu doce perfume, com o calor do teu abraço.
Embrulhei-me no teu robe…Sentia o teu perfume, a tua presença. Não caíram
lágrimas, chorar seria pouco para exteriorizar toda a minha tristeza, mágoa ou
o que fosse, que não teria um nome, pois tentar nomeá-la, pronunciá-la seria
ainda assim ensurdecedor e vago para descrever o que sentia. O choro e o grito, ásperos, fizeram um nó e sufocaram
no meu peito, bem dentro de mim. O grito que eu não dei, a lágrima que não caiu,
a boca que não gemeu, o vazio que não preenchi…o silêncio que eu recebi e
aceitei, como quando se cai, perante um terramoto e não se tem forças perante
um mundo que treme, uma alma que se afunda, uma dor que dilacera.
Guardá-los, sufocá-los, impedia de certa forma que aquela realidade se
materializasse. Como li algures “ninguém
devolve a dor à minha fala se eu não disser que me dói”. Atordoada, só queria
que me deixassem ali, embrulhada no teu robe, em cima da cama, esperançosamente
aguardando a tua chegada.
Não voltaste. E não houve um dia que eu não abrisse aquela gaveta e não quisesse
morar nela. Não sentisse o peso de uma saudade que corrói, que angustia e que
por vezes até assusta.
O tempo não cura nada. O vazio nunca se preenche. Ainda choro por ti, Mãe,
naquela cama, esperando a tua voz, o teu abraço, o teu colo, a batalha de
beijos, as danças ao som do Julio Iglésias, do Tom Jobim ou do Bolero de Ravel … E principalmente do
teu olhar doce dizendo que tudo iria ficar bem.
Anne
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