(…) Helena, a doce Helena. Que olhar triste e pesado se apoderou dela. No mais fundo da sua alma, sabia que aquele momento iria marcá-la para sempre. Mais uma cicatriz, mais um remendo naquela manta de retalhos chamada vida. Trémula, sentiu todo o seu corpo cambalear, numa completa volta vertiginosa. A queda parecia eminente, mas ainda conseguira debruçar-se numa antiga cómoda, situada entre a escrivaninha e a porta do quarto.
Sentia urgência em sair dali, como se o ar se rarificasse naquele espaço, como se sentisse um peso a afundá-la, a apoderar-se do seu corpo já um pouco inerte. A dor, a tristeza, a mágoa eram assumidamente mais fortes e poderosas, que qualquer vislumbre de combatividade, de qualquer gesto defensivo ou de derradeira tentativa de sobrevivência.
A sua expressão era uma
mistura de dor e fraqueza. Pálida, dormente e de olhos baços e tristes, sentia
que talvez o choro pudesse ajudá-la a desabafar, a exteriorizar aquela dor
dilacerante, que a rasgava e a comprimia num estado imenso de tensão e de desmaio.
Mas dos seus olhos, nenhuma lágrima. Era quase como quando se ouve uma música, esperando
o refrão, o clímax anunciado pelas notas antecedentes…A explosão enlouquecida e
ritmada, o delírio musical orquestrado, o momento auge de uma escalada
monumental…Mas o vazio, o silêncio permanecesse, com o seu peso esmagador, oco
mas cruel, de uma arrogância perpendicular.
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